domingo, 1 de maio de 2011

Rio


O Rio de Janeiro da animação Rio, maior lançamento da 20th Century Fox – mil salas – aqui no Brasil, tem um quê de terra que naturalmente convoca quem vem de fora a se deixar levar pela música, pelo calor. Um clima meio Feitiço do Rio, mas que também deve à ode ao carnaval das chanchadas em filmes como Aviso aos Navegantes.

Acredito que parte do tom vem dos roteiristas, todos americanos egressos da comédia. O restante está mais ligado ao olhar de Carlos Saldanha, autor da história original. Rio beira a perfeição técnica, tem sequências bonitas, trechos emocionantes e momentos inteligentes dos personagens. Porém, o que me incomoda, impedindo uma relação mais carinhosa e não tão distanciada com o filme é justamente o clima de Rio de Janeiro como a terra da alegria irrestrita.

Esta nova animação do diretor de A Era do Gelo 3 começa com muita beleza e cor. Dezenas de espécies de pássaros estão espalhadas pelas árvores tendo o Pão de Açúcar como pano de fundo. Sambam e requebram, cada um responsável por uma composição da bateria. Uma minúscula arara-azul assiste a tudo escondida num tronco de árvore, com seus lindos e grandes olhos. No meio do ziriguidum, o clima muda: gaiolas aprisionam os raros animais, que serão traficados para algum país. Começa Rio.

No enredo, Blu (voz de Jesse Eisenberg) é uma arara-azul criada pela jovem Linda (Leslie Mann) na friorenta Minnesota, Estados Unidos. Uma ave atípica que não voa, adora chocolate quente e tem larga habilidade com as patas. A rotina dos dois é interrompida pela visita do biólogo Túlio (Rodrigo Santoro). Blu precisa ir ao Rio de Janeiro e se reproduzir com a única fêmea restante da espécie, Jade (Anne Hathaway). Arara, dona e biólogo chegam à cidade em pleno Carnaval. Começam as aventuras.

À parte do que é facilmente elogiável (a reconstituição das belezas naturais da cidade e a bela textura da arara-azul, fofa com suas penas), Rio lida de maneira inteligente com a obrigação masculina em liderar o jogo da conquista. Quando chega na cidade e conhece Jade, Blu precisa cortejá-la para que a tão necessitada reprodução da espécie ocorra, certo? Mas como fazer isso com tamanha timidez?

Em seus melhores momentos, Rio alcança a acidez de diálogo e técnica de Toy Story 3, assim como a magia de Miyazaki em A Viagem de Chihiro. Nos momentos menos interessante, repete estereótipos. No geral, um filme bem cuidado, que felizmente não repete de maneira esvaziada o discurso apolítico da preservação da natureza.

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